Eren Yeager: A Jornada do Herói que se Tornou Vilão


O Herói Trágico: Raízes de uma Revolução

No início de Attack on Titan, Eren Yeager é apresentado como o arquétipo do herói trágico. Órfão em um mundo onde a humanidade vive confinada por muralhas, ele testemunha a destruição de sua cidade natal e a morte de sua mãe nas mãos de um Titã. Esse trauma molda sua visão de mundo: os Titãs são a personificação do mal, e sua erradicação é a única via para a liberdade. Sua determinação ressoa com o público, evocando figuras históricas como revolucionários que desafiaram regimes opressivos, de Robespierre na Revolução Francesa a líderes de movimentos anticoloniais.

A raiva de Eren é palpável, mas também profundamente humana. Ele não é apenas um jovem lutando por sobrevivência, mas um símbolo de resistência contra um sistema que aprisiona. Sua promessa de "matar todos os Titãs" carrega o fervor de um idealista, mas também prenuncia sua inflexibilidade. Como apontado por Aristóteles em sua definição de tragédia, o herói trágico é movido por uma hamartia – um defeito fatal. Para Eren, esse defeito é sua visão absolutista da liberdade, que o leva a ignorar nuances morais em nome de um objetivo maior.

A Corrupção do Ideal: O Rumbling e o Preço da Utopia

Conforme a narrativa avança, Attack on Titan revela camadas mais complexas do conflito. Os Titãs não são apenas monstros, mas ferramentas de um ciclo de opressão entre nações. Eren, ao herdar o Titã Fundador, ganha o poder de mudar o destino de seu povo, os Eldianos, mas também descobre a extensão de sua marginalização histórica. É aqui que sua transformação começa: de herói a anti-herói, e, finalmente, a tirano.

O Rumbling – a ativação de milhões de Titãs Colossais para destruir o mundo além das muralhas – é o ápice de sua queda moral. Eren justifica essa decisão como a única forma de garantir a sobrevivência dos Eldianos, mas o custo é o genocídio de bilhões. Essa escolha ecoa dilemas éticos explorados por filósofos como Nicolau Maquiavel, que em O Príncipe argumentava que um líder deve estar disposto a cometer atos imorais pelo bem maior. No entanto, Eren vai além: sua utopia é construída sobre o extermínio, desafiando a máxima kantiana de que a moralidade deve ser universalizável. Como pode um ato de destruição em massa ser ético, mesmo que motivado pela proteção de um grupo?

Além disso, a dialética hegeliana – a ideia de que o progresso histórico nasce do conflito entre opostos – encontra eco na trajetória de Eren. Ele acredita estar conduzindo a humanidade a uma nova era, mas sua visão é cega às consequências. O Rumbling não apenas destrói o mundo externo, mas também fratura a sociedade Eldiana, criando divisões internas e perpetuando o ciclo de violência que ele buscava encerrar. Essa contradição é o cerne de sua tragédia: o desejo de liberdade o transforma no opressor que ele jurou combater.

Paralelos Históricos: Revoluções e o Ciclo da Violência

A jornada de Eren reflete padrões históricos de revoluções que, ao buscar justiça, descambam em autoritarismo. A Revolução Francesa, por exemplo, começou com ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, mas culminou no Reinado do Terror. Da mesma forma, movimentos anticoloniais do século XX, como a luta pela independência na Argélia, frequentemente levaram a regimes que replicavam as estruturas de poder que combatiam. Eren encarna esse paradoxo: sua revolta contra a opressão Marleyana gera um novo regime de terror global.

Essa conexão histórica é reforçada pela construção do mundo em Attack on Titan. O conflito entre Eldianos e Marleyanos espelha dinâmicas de colonialismo, racismo e xenofobia. A decisão de Eren de usar o Rumbling pode ser lida como uma metáfora extrema para políticas de "terra arrasada" vistas em conflitos reais, onde a destruição total é vista como a única solução. No entanto, a história de Eren nos força a questionar: é possível quebrar o ciclo de violência sem criar novos opressores?

Ecos na Cultura Pop: De Anakin Skywalker a Geto Suguru

A narrativa de Eren ressoa com outros personagens fictícios que caem na tentação do poder absoluto. O exemplo mais evidente é Anakin Skywalker, de Star Wars. Como Eren, Anakin começa como um jovem idealista, movido pelo desejo de proteger aqueles que ama. Sua transformação em Darth Vader, no entanto, é marcada pela crença de que apenas um poder autoritário pode trazer ordem ao caos. Ambos os personagens ilustram a tragédia de intenções nobres corrompidas por métodos extremos.

Na esfera dos animes, paralelos podem ser traçados com Geto Suguru, de Jujutsu Kaisen. Geto, como Eren, começa como um defensor dos oprimidos – no caso, os feiticeiros contra humanos não mágicos. Sua visão, porém, evolui para um plano genocida, acreditando que a eliminação dos "fracos" é necessária para um mundo ideal. Essas semelhanças sublinham um tema recorrente na cultura pop: o poder absoluto, mesmo quando motivado por justiça, tende a corromper.

O Espelho da Humanidade: Reflexões Éticas e Psicológicas

A trajetória de Eren Yeager nos convida a refletir sobre a natureza do heroísmo e os limites da moralidade. Psicologicamente, ele é um estudo de caso sobre trauma e radicalização. O sofrimento de sua infância – a perda da mãe, a vida sob constante ameaça – molda uma visão de mundo binária, onde a única solução é a destruição do "outro". Essa mentalidade reflete estudos sobre radicalização, onde indivíduos expostos a traumas coletivos podem adotar ideologias extremistas como forma de recuperar controle.

Eticamente, Eren desafia a dicotomia entre utilitarismo e deontologia. Do ponto de vista utilitarista, o Rumbling poderia ser justificado se o resultado final – a sobrevivência dos Eldianos – superasse o custo em vidas. No entanto, uma perspectiva deontológica, que prioriza princípios universais, condena suas ações como intrinsecamente erradas, independentemente do objetivo. Essa tensão é o que torna Eren um personagem tão fascinante: ele é ao mesmo tempo vítima, herói e vilão, um espelho das contradições humanas.

Conclusão: Um Alerta para a Humanidade

Eren Yeager não é apenas um personagem; ele é um arquétipo que reflete as ambições e falhas da humanidade. Sua jornada de herói a tirano nos lembra que a linha entre libertação e opressão é tênue. Em um mundo marcado por desigualdades, conflitos étnicos e crises globais, Attack on Titan nos desafia a questionar: como lutamos por justiça sem perder nossa humanidade?

A história de Eren é um aviso atemporal: a busca por liberdade, se desprovida de ética, pode criar monstros piores do que aqueles que combatemos. Sua tragédia não está apenas em sua queda, mas no que ela revela sobre nós mesmos – nossas ambições, nossos medos e nossa capacidade de justificar o injustificável em nome de um ideal. Eren Yeager nos ensina que a verdadeira liberdade não é conquistada com destruição, mas com a coragem de enfrentar o ciclo de violência e escolher a humanidade acima de tudo.

O que você acha da trajetória de Eren? Ele é um herói trágico, um vilão necessário ou algo mais complexo? Compartilhe suas reflexões!

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